quarta-feira, 3 de Setembro de 2014
Vila Real irónica
Ontem, ao gravar umas palavras para uma reportagem que a RTP vai passar,
na manhã de dia 10, sobre Vila Real, sublinhei o caráter algo
iconoclasta da população vilarealense, a saudável ironia, âs vezes a
roçar o cruel, que marca a maneira de ser das gentes de Vila Real. Mesmo
em tempos em que brincar com as elites tinha os seus riscos, a cidade
mantinha uma discurso rebelde e cáustico, feito de graçolas, que
atingiam toda a gente, dos ricos e poderosos às figuras mais populares,
numa enxurrada de humor interclassista que, para mim, foi sempre um dos
encantos desta terra.
Ontem à noite, ao passar pela antiga casa daquele que foi de um dos
maiores "capitalistas" da cidade, uma figura simpática e boémia, de quem
guardo ainda uma imagem vaga, alguém referiu as condições da sua morte -
que teve lugar durante o ato sexual com a sua amante, circunstância
para a qual um meu amigo chileno criou um dia o genial neologismo de
"follecimento". A história ficou famosa, embora menos pelo escândalo da
mancebia (nessa altura, por aqui, ter alguém "por conta" fora do
casamento era quase indispensável ao estatuto social das pessoas "com
posses"), mas pela relativa raridade da ocorrência.
A senhora em causa, uma mulher bonita e vistosa, de que me lembro
bastante bem, porque morava junto à minha escola primária, era conhecida
pelo nome de Baía. Toda a cidade ficou a conhecê-la melhor depois desse
incidente, com as "línguas" locais a rapidamente encontrarem uma forma
de subverter o caráter trágico do mesmo, através de uma graçola. Assim,
quando falavam da morte do abastado proprietário, alguns acrescentavam:
"coitado, morreu no Brasil!" Perante a surpresa do interlocutor, que não
tinha ouvido falar de que o passamento tivesse tido lugar tão longe de
Vila Real, o outro acrescentava: "É verdade, morreu na Baía"...
Deixo-lhes a imagem, de há minutos, do alvorecer da cidade
Deixo-lhes a imagem, de há minutos, do alvorecer da cidade
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