Ambiente acolhedor e com um raio de sol a entrar pela porta. Na parede uma gaiola com um periquito ou um calendário. Corte e lavagem são mais caros, vê-se no preçário que está na parede meia caiada.
Lacas e Pitralon embrulham-se nas prateleiras com os perfumes e o espelho, na zona baixa do móvel está o pincel o assentador, as navalhas e as várias tesouras, até a máquina que corta e não aleija... As cadeiras e alguns jornais compõem o recheio da casa. Cá fora o letreiro. Este é o ambiente que envolve o conceito das barbearias do século XX. As conversas esbatiam os desagrado políticos, a partidários e clubistas. Jogava-se no totobola, comprava-se a lotaria e ouvia-se rádio...
O senhor Albuquerque foi quem abriu a barbearia que faz esquina entre as ruas Maestro David de Sousa e Bernardo Lopes. Montou a casa que anos depois estiveram vários profissionais do sector, como o Zé, o Tó-Zé, o Joaquim, entre outros.
Na Rua da Liberdade a história manda contar duas barbearias: no topo da artéria a do António Galizão, que esteve durante largos anos com porta aberta, donde era visível a sua habitual bicicleta estacionada no topo norte; e a que, a meio da rua, acolheu durante anos a arte do senhor Evangelista exactamente onde esteve depois o senhor Frederico. Na Rua da Fonte, um pouco acima do Thaity, João Rola abriu uma barbearia onde esteve anos mais tarde, até praticamente à morte, António dos Santos Monteiro.
A Barbearia Forte, ao lado do Europa, esteve muitos anos o simpático Palaio. Ao lado havia um salão também para senhoras.
Na “Rua do Casino”, ao lado da Tabacaria Pessoa, um empresário de Coimbra abriu a Barbearia Moderna. António Clemente, chegado do Brasil assumiu a casa e ali trabalhou durante anos. Por lá passaram Luís Freitas e o saudoso Valter, filho do dono.
Na mesma rua, exactamente onde se encontra o supermercado Ovo, havia o Godinho – outra barbearia da Figueira. Fazia esquina para a Rua do Mercado (Rua Francisco António Dinis).
Em frente ao Jardim Municipal situava-se o Moutinho, onde esteve o Rola, que hoje ainda desenvolve a profissão na Rua do Estendal.
Quem soube para a Igreja matriz pela Rua Fresca, e na porta pintada a azul, onde se encontra uma oficina de velocípedes, existia o João Ribeiro, outro oficial da barbearia.
No decurso do século XX e passeando pelas barbeias da Figueira, recorda-se uma outra no Largo do Carvão, que tinha também um salão de cabeleireiro. Não se pode esquecer ainda o Guerra, junto onde esteve a SolPrata. Durante anos, a seguir a seu pai, esteve o Alexandre. Subia-se um degrau alto e ali se estava. Depois fechou.
Na Praça Velha existia o Morais. Outro barbeiro que marcou uma época. Agora está lá ...?..., depois de seu pai. Neste rol de lembranças não se pode esquecer o Esteves, do lado oposto daquela praça.
Quem subia para a Casa Rádio, no tempo de Ângelo Tavares Gil, encontrava Barbearia Académica, do senhor Santos, subindo ia-se ao encontro da barbearia onde estava o Carriço.
Na Praça Nova havia duas na mesma linha de rua: o Matos e o Manuel “do Arroz”.
A caminho da Estação ainda havia barbearias. O filho do Guerra, ali no redondo da Singer, e o Albano, mais ou menos em frente à Nau.
Em frente à antiga Casa de Saúde havia a barbearia do Tonecas, diminuitivo carinhoso de António Coelho. Um exímio tocador de instrumentos de cordas no rancho de Vila Verde e um fã incondicional da alimentação saudável, onde o mel e o alho pontificavam.
Nas barbearias do Grande Hotel e do Casino, a partir dos anos 60, de Maio a Outubro (período da concessão), depois do Adelino, esteve o Tó-Zé (vindo da sua barbearia da Rua da Restauração) até ao fecho destas secções. Aqui havia também manicura – a Maria José e a Glória são apenas dois nomes que recordamos.
Segundo António José Ferreira Lé (Tó-Zé), hoje com 86 anos, por volta de 1940 “havia 22 barbearias na Figueira”. Havia ainda um barbeiro que estava afecto ao Quartel, “o Vítor, filho do Albano”, lembra.
Os engraxadores também faziam parte de algumas barbearias.
Recorde-se que a Figueira da Foz, onde não quero deixar de enumerar dos cabeleireiros Egídio, Mário Bertô, Cecília, Fernando, Alice, Né e Olímpio, entre outros, foi durante anos ponto obrigatório do célebre Festival Internacional do Penteado, onde o falecido Renzo Carlluci, preparavam cuidadosamente a montra das tendências dos penteado - muitas vezes marcava o curto, com nucas pronunciadas. Assim se fez a moda durante muitos anos.
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