CABELOS E SÍMBOLOS
A história e a mitologia ligadas aos cabelos e ao seu corte são, geralmente, esquecidas, ou tratadas como apêndice em obras sobre a história do traje ou a simbologia do vestuário. Não são conhecidos, em Portugal, estudos da evolução do penteado ou da profissão de barbeiro.
No entanto, é indesmentível a quantidade de denotações que o cabelo encerra, dos tempos bíblicos de Sansão e Dalila ao provocante estilo hyppie, aos Beatles ou aos penteados coloridos e marciais dos punks dos anos 80.
Ainda na Bíblia, Isaías ameaça os Hebreus com a cólera celeste, e prevê que o Senhor tornará calvos os filhos de Sião. Mas, mesmo na Bíblia, ter cabelo nem sempre é sinal de ligação com a divindade e de protecção celeste: Absalão fica preso numa árvore pelos seus cabelos, o que permite a Job apanhá-lo e matá-lo.
Todas as civilizações tiveram a sua própria mitologia ligada aos cabelos e à barba. No Egipto, por exemplo, os faraós usavam perucas e barbas rituais, e a rainha Hatchepsout, um dos poucos soberanos do sexo feminino, é sempre representada nas gravuras da época usando peruca e barba postiça.
Noutros cantos do mundo, a importância dada ao cabelo manifesta-se de outras formas: na trança dos mandarins chineses, no trofeu do escalpe dos índios da América do Norte, nas ofertas de cabelos aos deuses na Grécia antiga.
Berenice, mulher de Ptolomeu, oferecera a sua cabeleira a Afrodite para obter o regresso do seu marido da guerra. A cabeleira desapareceu do templo, e o astrónomo Cónon sugeriu que ela se tinha transformado numa constelação, que ainda hoje se chama Cabeleira de Berenice...
No entanto, a «guerra» entre barbeiros e cirurgiões foi uma constante até aos últimos séculos, com éditos sucessivos a marcar a fronteira entre o que podia e não podia ser feito por
uns e por outros.
Em 1301, o preboste de Paris, Renaud Bardon, ameaça castigar severamente vinte e seis barbeiros que se entregam à cirurgia e proíbe-lhes semelhante actividade, pelo menos até que tenham sido examinados por mestres de cirurgia, para saber se estão aptos para os cuidados médicos. Até aqui, portanto, o barbeiro podia ser também cirurgião, desde que «examinado».
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